Corpo Paisagem

O corpo é paisagem sem fim.  O corpo- paisagem sonha rotas e revista destinos. O corpo-paisagem tem mãos atadas ao presente e incorpora o futuro. O corpo-paisagem é cor vívida de estrelas perdidas no universo. O corpo-paisagem transborda sem fim, matizando inícios em eterna reconstrução.

Residente Lívia Bertges


Paisagem I

Ednalva Palamido Rondon (22 anos) é estudante pela Instituição Federal de Mato grosso, campus bela Vista Cuiabá (IFMT) Cursando Técnico em Química. É indígena da etnia kurâ Bakairi, residente da aldeia Pakuera que localiza-se no município de Paranatinga. Com o tronco linguístico Karibe que minha etnia fluentemente pronuncia. Aqui na aldeia gosto muito de jogar futebol aliás eu sou capitã do time feminina, além de praticar esportes também gosto muito de registrar momentos das belas paisagens que há na aldeia. Sempre que posso eu compartilho no meu Instagram (ednalva_rondon). Quando tem festa ou rituais sagrados,  gosto de ajudar no grafismo, eu mesma extraio a tinta da fruta, preparo, para depois começar a fazer grafismo pois faço tanto nas mulheres quanto nos homens.

Sem título, fotografia, Ednalva Palamido Rondon, s/d.

Sem título, fotografia, Ednalva Palamido Rondon, s/d.

Coisas a se escutar, fotografia dupla exposição, Pedro Duarte, 2019. Interação com Ednalva Palamido Rondon.


Paisagem II

Maria das Dores Soares Vital (RIMARO) é artista plástica Naif , mineira, residente em Mato Grosso há quarenta e seis anos. Fez várias exposição em Mato Grosso e em vários estados e no exterior. Hoje em casa pintando, se cuidando e exercitando o corpo.

Convivendo com o Corona, pintura sob tela, Maria das Dores Soares Vital, 2020.

Não vejo

Eu paro

               penso

                              e sinto:

Ansiedade na cidade

Medo

Do que não vejo

Perdido no multidão.

Não Vejo, Reinaldo Mota, 2020. Interação com Maria das Dores Soares Vital.


Paisagem III

Bruna Mitrano (1985) nasceu e vive na periferia do Rio de Janeiro. Filha de camelô e neta de lavadeira, é mestre em Literatura pela UERJ, poeta, desenhista e articuladora cultural. Tem textos publicados da Revista Pessoa, na revista Cult, na revista Palavra, no jornal Plástico Bolha, dentre outros. Participou de 19 antologias. Teve textos traduzidos para o inglês e o espanhol. Integrou a exposição Poesia Agora, na Caixa Cultural; participou dos Encontros Literários, do Sesc/RJ; foi autora convidada do projeto Paixão de Ler, do Ministério da Cultura; foi autora convidada da Flipelô – Festa Literária do Pelourinho; e participou de mesas literárias em vários espaços e instituições como PUC-Rio, UERJ, IMS, Teatro Sérgio Porto, Livraria da Travessa, Livraria Tapera Taperá. É autora do livro Não (Ed. Patuá, 2016).

Cegueira, fotografia, Bruna Mitrano, 2020.

Olho para calar.
Alguma palavra,
vã ou sagrada,
acusa o
corpo e
encorpa
pele e boca.

Tempestade densa,
interno
confronto.

Toda fala
prescinde
ao indizível.

Pontuações
e respiros
cansados.

Os músculos,
em silêncio,
pedem colo ao tempo.

Carrego silêncios em traços,
com as mesmas mãos
que sigo
nos gestos.

Silêncio, Lívia Bertges, 2020. Interação com Bruna Mitrano.


Paisagem IV

Matheus Guménin Barreto (1992- ) é poeta e tradutor mato-grossense. É autor dos livros de poemas A máquina de carregar nadas (7Letras, 2017) e Poemas em torno do chão & Primeiros poemas (Carlini & Caniato, 2018). Doutorando da Universidade de São Paulo (USP) na área de Língua e Literatura Alemãs – subárea tradução -, estudou também na Universidade de Heidelberg e na Universidade de Leipzig. Encontram-se poemas seus traduzidos para o espanhol, o catalão e o inglês (Revista Cult, Escamandro, Diário de Cuiabá; entre outros), e integrou o Printemps Littéraire Brésilien 2018 na França e na Bélgica a convite da Universidade Sorbonne. Publica livro novo em 2020 pela editora Corsário-Satã.

Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?

Tabacaria (Álvaro de Campos)

arder de agoras
/
pesar na mão o pouco sol que nos cabe,

*

Tatear no ar o braço
a mão
o colo
Tatear à procura do
chão morno, circular
Tatear a obra só prometida
que talvez não se cumpra
Tatear o espelho
e não achar os olhos com que olha.

Um ensaio do hoje em duas partes, Matheus Guménin Barreto, 2020.

Pouso, poema visual, Lívia Bertges, 2020. Interação com Matheus Guménin Barreto.


Paisagem V

Carlos Awire Torres é músico, estudante de sonoplastia na MT Escola de Teatro.

Ali no fio de luz, pousa o bem-te-vi
Só naquele cano, mais de mil baratas
Nas paredes, cicatrizes
De um corpo que não te pertence
Contorce, agoniza, esfria…
Marcas, vestígios da vida
As patas, os pés, o mofo

Cercada de predadores, ela corre
Corre uma década sobre o reboco
Procura resto nos cantos
Vasculha cada espaço possível
Se conforma, não há nada ali.

Bestamorfose, Carla Renck Martins e Carlos Awire Torres, 2020.

Efemérides, poema visual, Ruth Albernaz, 2014/2020. Interação com Carla Renck Martins e Carlos Awire Torres.

Nota: Este poema visual é um diálogo com o poema BESTAMORFOSE de Carlos Awire e Carla Renck, parte da Série Efemérides, fotografias  de fragmentos de imagens sob efeito das intempéries em obras públicas realizadas por artistas em espaços urbanos. Políptico a partir de  fotografías de Rai Reis, lambe-lambes em muros na cidade Chapada dos Guimarães, recriadas com colagem digital inspirada na provocação do poema.

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